Não se faz mais vestibular como antigamente

Manter-se atualizado com a estrutura dos processos seletivos das principais universidades e faculdades brasileiras é uma missão quase impossível, inclusive para profissionais da educação. A impressão mais comum é a de que nossos filhos, para passar no tão desejado curso, farão provas e mais provas, todas elas buscando identificar aqueles que memorizaram a maior quantidade de conteúdos conceituais, exatamente como fizemos em nossos vestibulares há 20 ou 30 anos. Pois isso mudou, e muito.

Assim como o mercado de trabalho já faz, há um bom tempo, os principais cursos superiores do país incluíram em seus processos seletivos, etapas que buscam identificar componentes socioemocionais em seus candidatos. Esse movimento começou com o curso de Direito da Fundação Getúlio Vargas que, desde a sua criação em 2002, incluiu um exame oral com uma apresentação individual e um debate em grupo.  Seguindo esta tendência, o novo curso de Engenharia do INSPER, realiza também um exame oral com sucessivas discussões em grupo, observando, entre outras características, a capacidade do candidato se comunicar de maneira assertiva, de expressar os próprios pontos de vista, de trabalhar em equipe, de apresentar argumentos e de escutar argumentos de outras pessoas. Este processo passou a ser adotado, também, no processo seletivo dos cursos de Administração e Economia da instituição.

O mesmo caminho seguiu o curso de Medicina do Albert Einstein, que adotou as Mini Múltiplas Entrevistas (MME), um processo seletivo utilizado por muitas faculdades de medicina no Canadá, Reino Unido, e em mais de 30 cursos nos EUA. As MME consistem numa série de 8 (oito) estações de avaliação estruturadas e com tempo controlado, baseadas em “cenários” que darão aos candidatos diferentes oportunidades de expor suas impressões e habilidades. As competências avaliadas incluem comunicação efetiva, empatia, pensamento crítico, liderança, ética, compaixão e motivação.

Os cursos de Administração da FGV passaram a incluir em seu processo seletivo uma “Carta de Motivação” e uma entrevista com professores da faculdade, na qual o candidato deverá defender os argumentos presentes no texto enviado. Será observada, segundo o manual do candidato, “a capacidade de influenciar o meio em que atua, interagir com novas experiências sociais e de exercer plenamente sua autonomia nas organizações, respeitando as posições dos demais indivíduos”.

A pandemia acabou se tornando um catalisador deste processo. A ESPM, por exemplo, deixou de aplicar uma prova de conhecimentos gerais e passou a exigir dos candidatos uma redação e uma entrevista, ambas feitas on-line.